Eu tenho uma vergonhosa lista de coisas da cultura pop que eu sei que são muito boas, que todo mundo já cansou de me recomendar e que às vezes são até mesmo muito importantes no seu meio, mas que nunca tive a vergonha na cara de experimentar: O Poderoso Chefão, Legião Urbana, Clube da Luta (o livro, no caso. O filme eu assisti e acho foda!) são apenas alguns exemplos.
Farei uma breve pausa no texto para que vocês possam me apedrejar:
No caso dos games, uma franquia que eu passei anos sem dar bola foi The Witcher. As aventuras do bruxo Geralt de Rivia nunca me atraíram antes, já que na época do lançamento do primeiro jogo eu ainda era bastante adepto dos RPGs japoneses (a grande exceção que me fez olhar com mais carinho pros RPGs feitos do lado de cá do mundo foi o maravilhoso Mass Effect). Só de uns meses pra cá eu tive vontade de finalmente experimentar o game lançado em 2007 pela CD Projekt RED.
Ter lido e me fascinado com o livro O Último Desejo, de Andrzej Sapkowski (sobre o qual pretendo falar aqui no Conquista um dia) e ter arrumado uma namorada que é super fã do universo do Wiedźmin (brigadão, amor!) só alimentou ainda mais meu hype. Então, cá estamos! ^^
Logo nos primeiros minutos de jogo eu não me senti muito a vontade com alguns elementos da jogabilidade, especialmente na parte do combate: é estranho ter que segurar o botão do mouse, soltar e segurar de novo em um certo ritmo para golpear os inimigos e monstros com a espada. Algo que também me fez estranhar foi The Witcher ter duas formas diferentes de pausar o jogo: a normal, com a tecla Esc (e que dá acesso às opções); e uma pausa que permite que você selecione algumas opções de combate na tela com a ação paralisada, como estilos de combate, tipos de magias e ângulos de câmera.
Esse modo de pausa diferenciado me fez lembrar de um outro jogo que eu adorava jogar antigamente, o Neverwinter Nights (bateu até saudade de jogar… quem sabe não escrevo um Relembrando sobre ele um dia?), o que despertou minha curiosidade. Pesquisando a respeito, descobri que o primeiro The Witcher foi criado a partir de uma versão adaptada do Aurora Engine, um antigo motor de jogo pertencente à BioWare e usado para fazer o Neverwinter Nights, que era um jogo cuja jogabilidade e câmera aérea se assemelhavam a Diablo.
O Aurora Engine foi lançado pela BioWare há 15 anos, em 2002. Adaptar um engine para criar um jogo tão diferente do que ele foi projetado pra criar não deve ter sido nada fácil! Isso também explica The Witcher nunca ter recebido suporte a joysticks, nem ter sido lançado para os consoles da época.
Com relação ao universo, achei curioso os desenvolvedores não terem escolhido apenas reproduzir as histórias das obras originais neste jogo (o que aparentemente também rolou nos jogos seguintes).
Em vez disso, eles resolveram seguir em uma direção diferente, situando o jogo depois dos eventos dos livros de Sapkowski: no começo do jogo, após uma invasão à cidadela de Kaer Mohren (antigo local de treinamento de bruxos onde Geralt passou boa parte de sua vida), Geralt acaba sendo atacado e perde a memória. Ao longo do jogo a amnésia aos poucos vai se dissipando, permitindo que o bruxo reconstrua relações e laços com antigos amigos e inimigos enquanto lida com novas ameaças espalhadas por Vizima, capital do reino de Temeria.
Por um lado eu achei essa uma decisão bacana: fazer essa espécie de recomeço aparentemente livrou os roteiristas das amarras dos livros, permitindo a criação de novas histórias com um pouco mais de liberdade. Ao mesmo tempo eles respeitaram a obra original e usaram algumas referências bacanas deles pra incrementar a nova aventura, pelo pouco que pude notar.
Por outro lado, isso fez com que uma característica incrível que me agradou muito em O Último Desejo se perdesse no primeiro game de The Witcher: a personalidade de Geralt. O Geralt do livro que eu li é de fato bastante soturno e introspectivo, às vezes até um bocado ranzinza… mas ele também tem um senso de humor bem ácido e uma língua bem afiada, além de uma inteligência e sagacidade notáveis. Essa combinação proporcionou situações memoráveis, como o longo e agradável diálogo entre Geralt e o monstro Nivellen ou as hilárias briguinhas entre o bruxo e seu velho amigo Jaskier.
Talvez tenha sido a falta de experiência dos desenvolvedores, as dificuldades de adaptação de uma obra tão diversa ou mesmo as limitações técnicas da época… mas no jogo da CD Projekt RED apenas vejo um Geralt sério e sisudo, de voz grave e quase sem personalidade, que simplesmente faz perguntas e ouve respostas ao longo do jogo. Torço muito pra que isso tenha melhorado nos dois games seguintes, pois ainda quero muito jogá-los. Mas alguns amigos meus que jogaram o The Witcher 3: Wild Hunt já me contaram que não mudou muita coisa nesse aspecto de 2007 pra cá.
Obviamente isso não mancha nem um pouco o grande valor desse jogo e a CD Projekt RED soube manter o respeito à obra original apesar das limitações que enfrentou no desenvolvimento. O esmero e a dedicação em fazer o melhor jogo de The Witcher possível podem ser vistos logo de cara na fantástica abertura, absolutamente fiel a um dos primeiros contos do livro O Último Desejo, intitulado O Bruxo.
Desnecessário dizer que ver essa cena e relembrar cada linha de sua versão literária me fez sorrir de orelha a orelha!
Bom, essas são as minhas impressões do primeiro The Witcher até o presente momento. Estou no capítulo 2 do jogo e ainda estou tentando me acostumar ao seu estranho combate, ao mesmo tempo em que tô gostando bastante de coletar ingredientes para preparar poções – e é claro, me divertindo pra caramba jogando Poker com dados com todo mundo que eu encontro em Vizima (já que o jogo Gwent só veio a ser criado no terceiro jogo da franquia)!
Sem dúvida adorei conhecer e desbravar esse fascinante mundo, ainda que tardiamente. Lerei mais dos livros de Andrzej Sapkowski e continuarei me aventurando neste e nos games seguintes… e podem apostar que falarei do bruxo riviano mais vezes por aqui. 😉