Por volta do início de 2017 todo mundo que curte games de luta ficou bastante animado: o que se acreditava ser uma brincadeira de 1º de abril foi revelado posteriormente pela desenvolvedora Arika como o protótipo real de um novo título.
Sim! Pela primeira vez em 20 anos, os responsáveis por nos alegrar com o memorável Street Fighter EX estão criando um game de luta novamente. E o melhor: trazendo novamente os clássicos personagens que fizeram companhia a Ryu e sua turma e que a FGC aprendeu a amar!
Após meses de mistério cercando até mesmo o nome do jogo (que até então era desconhecido, fazendo o projeto ser conhecido como “jogo de 1º de abril da Arika” ou “jogo de luta misterioso”), a Arika revela o nome definitivo de seu novo jogo: Fighting EX Layer.
O que eu particularmente não sabia e descobri recentemente é que esse nome não foi escolhido por acaso, pois em 1998 a Arika havia criado um título infelizmente bem desconhecido mas muito interessante chamado Fighting Layer.
Como tudo começou?
Pra quem não conhece, a Arika é uma empresa formada por ex-funcionários da Capcom, fundada em 1995 por Akira Nishitani (um dos criadores de Street Fighter II). Apesar disso, tal empresa sempre manteve boas relações com a Capcom e as duas empresas seguiram trabalhando juntas em diversos projetos ao longo dos anos.
Essa parceria foi bastante benéfica para a casa do Mega Man: tendo desde sempre grande tradição em desenvolvimento de jogos 2D, até então os funcionários da Capcom não tinham nenhuma experiência com desenvolvimento de jogos com gráficos e jogabilidade tridimensionais, tecnologia que estava aflorando nessa época. Por outro lado, a Arika já estava fazendo experimentações com jogos 3D e seu primeiro protótipo, apresentado por Nishitani e sua equipe para o produtor da Capcom Yoshiki Okamoto, deu origem ao game Street Fighter EX, lançado para arcades em 1996 – bem como às suas várias sequências e variações, lançadas para arcades e para os consoles da Sony nos anos seguintes.
Juntamente com os clássicos personagens da Capcom, a série Street Fighter EX trouxe personagens criados pela própria Arika: Garuda, Hokuto, Allen Snider, Skullomania, Darun Mister, Pullum Purna, Doctrine Dark e vários outros. Como parte do acordo entre as duas empresas para a criação do primeiro título de 96, a Arika exigiu ficar com os direitos sobre esses personagens novos (o que faz todo sentido, já que a Arika era uma empresa recém-nascida e precisava criar valor para si). É por isso que tais personagens não aparecem em títulos novos da franquia Street Fighter, apesar dos apelos dos fãs.
Anos mais tarde, já mais bem consolidada na indústria graças ao sucesso da série Street Fighter EX, a Arika resolve focar em outros projetos e para de trabalhar com a propriedade intelectual da Capcom. Mas Nishitani e sua turma ainda tinham algumas boas ideias na cabeça e em 1998 tais ideias deram origem ao seu primeiro título de autoria própria.
Como é o jogo?
Fighting Layer foi lançado para os arcades japoneses em dezembro de 1998. Infelizmente tal jogo nunca foi portado para nenhuma outra plataforma e não foi lançado em nenhum outro pais oficialmente, sendo difícil de ser jogado hoje em dia por meios legais. Assim sendo, quem desejar experimentá-lo precisará apelar para a emulação, como foi o meu caso.
Um detalhe curioso desse jogo é que a Arika optou por oferecer apenas dois personagens já conhecidos de Street Fighter EX, sendo eles o Allen Snider e a Blair Dame. Todos os outros personagens jogáveis e não-jogáveis em Fighting Layer são inéditos e bastante variados em seu visual, apesar de um ou outro “copycat” (o Tetsuo Kato me parece um clone malfeito e esquisito do Ryu, por exemplo).
Fighting Layer também trazia uma boa variedade de mecânicas diferentes: além de recursos já conhecidos dos games feitos em parceria com a Capcom – tais como os comandos de quebra de defesa (guard breaks) e o cancelamento de um especial em outro especial seguido – era possível executar técnicas inéditas como o Super Elusion (que interrompia um combo do adversário e enchia toda a barra de especial), os Easy Combinations (combos simples feitos apertando-se soco fraco repetidamente), a troca de lado/switch side (que permitia trocar o adversário para o outro lado da tela rapidamente, pegando-o de surpresa e deixando-o aberto a combos) e os Clashes (que repeliam os dois adversários caso eles acertassem o mesmo golpe um contra o outro), entre outros.
Apesar dessa variedade de mecânicas, Fighting Layer é um jogo bem fácil de jogar de maneira descompromissada, sendo bastante familiar pra quem costumava jogar Street Fighter EX Plus Alpha no PSX. Mas se você tentar se dedicar um pouco mais a dominar Fighting Layer ele mostra seus “defeitos”: a jogabilidade é um tanto quanto travada e é meio complicadinho dar alguns golpes conscientemente. Além disso, os cenários são bem pequenos e não dão muito espaço para mobilidade, apesar de serem tridimensionais. A esquiva é executada de maneira estranha, dando-se um toque para frente mais botão de soco ou chute forte – o que pode atrapalhar um bocado caso seja acionada por acidente enquanto você tenta descobrir um novo combo.
Nenhum desses pequenos problemas são graves, afinal eu estou avaliando um jogo de 20 anos atrás com base na minha experiência com jogos de luta mais recentes, o que é sempre uma péssima ideia. Mas independente disso, Fighting Layer ainda é perfeitamente jogável hoje em dia e vale muito a pena ser experimentado.
Um legado interessante, porém infelizmente esquecido
Fighting EX Layer está previsto para ser lançado até o final de 2018 para PlayStation 4 e promete ser bastante divertido, trazer sangue novo para os games de luta e dessa vez trazer de vez os clássicos personagens da Arika que tanto gostamos (até o meu querido Skullo vai voltar!!!). Mas enquanto o novíssimo jogo da Arika não fica pronto, fica a dica de experimentar o Fighting Layer original.
Fighting Layer tinha muitas ideias interessantes mas que infelizmente foram eclipsadas pela enxurrada de lançamentos históricos no ano de 1998, um ano que ajudou a sedimentar a indústria de games como ela é hoje. Se hoje em dia Fighting Layer não se tornou tão memorável quanto os games mais clássicos lançados nesse mesmo ano e que tanto gostamos de exaltar, ao menos ele serviu de base para o que pode ser um game de luta realmente interessante. Por isso, vale a pena darmos uma nova chance a este esquecido jogo.