Era uma vez uma garotinha chamada Madelyn, que adorava jogar um jogo de aventura e fantasia para Super Nintendo chamado Ghouls ‘n Ghosts. Um belo dia ela desejou estar dentro do jogo e fazer parte da aventura. Então ela perguntou ao seu pai se isso era possível.
Seu pai Christopher, um desenvolvedor de jogos, respondeu: “Infelizmente não dá, filha. Esse é um jogo feito por outra pessoa. Mas eu posso fazer um jogo parecido e colocar você nele. Que tal?”. Madelyn disse: “Mas pai, meninas não podem ser guerreiras! Só meninos que podem!”.
Christopher respondeu prontamente: “Bah, bobagem! De que cor você quer sua armadura?”. Com um sorriso no rosto, a jovem Madelyn respondeu: “Eu quero rosa!”.
Pois é, pode ser bem difícil de acreditar, mas foi justamente assim que se iniciou a criação do jogo Battle Princess Madelyn! Desenvolvido pela Causal Bit Games e contando com a ajuda da filha de um dos desenvolvedores do estúdio (com apenas 7 anos de idade na época) em quase todo o processo de desenvolvimento, tal jogo chegou recentemente aos consoles e PCs trazendo muita ação e uma boa dose de desafio!
Um assustador demônio invade o reino e dizima boa parte da população, sequestra a família real e mata inclusive o pobre Fritz, o cachorrinho de estimação da Madelyn. Sem tempo para lamentações, Madelyn veste sua armadura, empunha sua lança e sai em uma grande viagem para enfrentar inúmeros perigos, libertar sua família, vingar a morte de seu cachorro e livrar o reino desse grande mal.
Algumas das características mais marcantes de Battle Princess Madelyn são os seus dois modos de jogo bastante distintos. O Modo Arcade/Arcade Mode, como o nome sugere, é o mais tradicional, dividido em fases curtas com batalhas contra chefes ao final de cada fase, bastante similar ao título da Capcom que lhe serve de inspiração – e quase tão dificil quanto!
Já o Modo História/Story Mode muda completamente a estrutura do jogo, oferecendo uma experiência de mundo aberto que me lembrou bastante os jogos da franquia Shantae: os mapas são maiores, tem uma estrutura diferente do que encontramos no Modo Arcade e são todos interligados entre si. Além disso, alguns poucos elementos de metroidvania – como a possibilidade de usar itens específicos para acessar lugares até então inacessíveis e o backtracking um bocado frequente – contribuem para prolongar a aventura e torná-la mais complexa.
Para completar, não há um mapa que possamos consultar, mas um sistema de teletransporte facilita a locomoção por áreas do mundo que já visitamos pelo menos uma vez.
Também é no Modo História que Battle Princess Madelyn capricha mais ao contar sua aventura: enquanto que no Modo Arcade a historinha do jogo é contada com uma cutscene simples feita com gráficos do próprio jogo, o Modo História conta até mesmo com trechos em desenho animado, nos quais descobrimos que Madelyn, na “vida real” do jogo, recebe a visita de seu avô, que lê uma livro de fantasia para ela – cuja história é justamente a que vivenciamos no jogo.
Sem dúvida um pequeno e interessante recurso de metalinguagem, além de as animações serem bastante simpáticas e agradáveis de se ver (apesar de eu achar esse filtro pixelado meio exagerado e desnecessário)!
No tocante à mecânica do jogo, os controles são até certo ponto bem confortáveis e respondem rapidamente ao apertar dos botões em 90% do tempo: às vezes rola alguns engasgos ao se executar certas ações (como subir e descer escadas, por exemplo), mas nada que atrapalhe muito a experiência.
O jogador, na pele da guerreira Madelyn, tem à disposição a sua lança, que pode ser disparada com o botão X/Quadrado. Também é possível pegar armas mais fortes (e trocar entre elas com L1/LB) e armaduras mais resistentes ao longo do jogo. Segurar X/Quadrado e soltar tal botão após alguns segundos faz com que o intrépido cachorrinho Fritz (ou melhor: a alminha penada dele, que acompanha Madelyn ao longo da aventura) ataque ferozmente qualquer inimigo próximo e também é possível conseguir poderes diferentes para ele, coletando itens específicos espalhados pelas fases (e alternar entre esses poderes pressionando R1/RB).
Um detalhe bem curioso de Battle Princess Madelyn é a maneira como o jogo lida com o conceito de “vidas extras”. Característica comum herdada dos jogos das gerações mais antigas, as vidas extras deixaram de fazer sentido e foram caindo em desuso em boa parte dos títulos modernos. Mas Battle Princess Madelyn trouxe esse conceito de volta de um jeito bem diferente e interessante.
No canto superior direito da tela há uma barrinha verde que começa 100% cheia e que se esvazia aos poucos sempre que Madelyn morre (Madelyn pode tomar dano apenas 2 vezes, morrendo ao tomar dano na segunda vez). Se o jogador morrer uma vez e passar bastante tempo sem morrer novamente, a barra vai se preenchendo gradativamente. Porém, se o jogador der azar e morrer seguidas vezes secando essa barra por completo, ele perde todos os checkpoints que alcançou até o momento e é obrigado a recomeçar a fase desde o início.
Apesar de eu ter gostado bastante desse recurso (ele consegue penalizar o jogador por seus erros sem puni-lo em excesso. No máximo você perde um pouco de tempo), seu funcionamento não foi muito claro pra mim quando eu joguei este jogo pela primeira vez e foi um bocado difícil deduzir sozinho como esse detalhe da mecânica funciona. Até então eu não sabia que critério o jogo usava pra me deixar tentar de novo logo depois de morrer ou pra me obrigar a percorrer a fase toda novamente e a simples presença da barra verde no HUD não facilitou muito.
Essa falha de interface poderia ser resolvida com uma pequena explicação em um tópico do tutorial mas, salvo engano da minha parte, infelizmente Battle Princess Madelyn ficou devendo essa.
O visual me desperta um pequeno conflito de sentimentos. Eu gosto pra caramba de como Battle Princess Madelyn reproduz quase fielmente a paleta de cores de vários jogos de Super Nintendo (me fazendo lembrar de jogos como Magical Quest, Aladdin e outros jogos da Disney lançados para o console da Nintendo), mas ao mesmo tempo o excesso de efeitos visuais modernos dá a este jogo um aspecto visual meio “sujo” e desagradável, com trechos de mapas um pouco escuros demais, muitas partículas voando ao mesmo tempo na tela e efeitos de iluminação que não iluminam tão bem quanto deveriam em alguns trechos do jogo.
Ativar o filtro de “scanlines” para simular o visual de uma TV de tubo (acessível na tela de Opções e demonstrado em quase todas as fotos desta resenha) só piora as coisas, então talvez você queira mantê-lo desativado enquanto joga.
Felizmente a música do jogo segue um caminho diferente: trazendo tanto faixas de estilo orquestral quanto músicas em chiptune (é possível escolher entre um dos dois estilos na tela de Opções), a trilha sonora de Battle Princess Madelyn combina bem com o clima épico e sombrio das fases e é bem agradável de se ouvir.
Battle Princess Madelyn é uma grande homenagem a alguns dos mais memoráveis títulos já criados pela Capcom e é também uma bela demonstração de amor de um pai por sua filhinha. Apesar de suas pequenas falhas técnicas, este título da Causal Bit Games proporciona tranquilamente uma boa dose de diversão para quem gosta de desafiar hordas de monstrengos saltitando pela tela.
Então se você também tem saudade das aventuras do cavaleiro Arthur, eis aqui uma grande oportunidade de acompanhar a guerreira Madelyn em mais uma épica jornada.
BATTLE PRINCESS MADELYN
Plataforma avaliada: PC/Windows | Desenvolvedor: Causal Bit Games | Publisher: Hound Picked Games | Gênero(s): Ação, Plataforma
Battle Princess Madelyn também está disponível para PlayStation 4, Xbox One e Nintendo Switch.
Esta resenha foi elaborada com uma cópia do jogo gentilmente cedida pelos desenvolvedores.