Quando escrevi sobre Batman: Arkham City eu disse que aquele era o game definitivo do homem-morcego. Três anos depois, a Rocksteady conseguiu se superar e criou o verdadeiro jogo definitivo do herói em Batman: Arkham Knight. Além de contar com um enredo excelente, a Rocksteady ainda conseguiu incluir novidades em um sistema de jogo que vem sendo utilizado desde 2009, encerrando com chave de ouro a trilogia iniciada em Arkham Asylum (trilogia porque Arkham Origins foi produzido pela WB Montreal).
É impossível comentar o enredo básico do game sem falar do final do jogo anterior, então quem ainda não jogou vai acabar levando uns spoilers. Arkham Knight começa com Gotham City “comemorando” o aniversário de um ano da morte do Coringa. A imprensa noticia que, embora os outros vilões ainda estejam por aí, ninguém assumiu o lugar do Príncipe Palhaço do Crime, deixando as coisas um pouco mais tranquilas na cidade. Mas como Gotham é um lugar desgraçado, o Espantalho surge ameaçando espalhar um novo e mortal gás do medo na cidade e praticamente toda a população é evacuada, sobrando polícia, bombeiros e o Cavaleiro das Trevas. Para ajudar no seu plano, o Espantalho conta com um novo aliado conhecido apenas como Arkham Knight, que controla uma milícia e parece saber tudo sobre o Batman e seus aliados.
Como o grande vilão da vez é um especialista em medo, a Rocksteady tratou de fazer uma história bem sombria e até com alguns sustos reservados ao jogador. Logo no início participamos da cremação do corpo do Coringa, que permanece com aquele sorriso ameaçador mesmo depois de morto, dando a impressão de que pode nos atacar a qualquer momento. Em seguida, assumimos o controle de um policial que se torna vítima do gás do medo, enxergando monstros em toda parte. Esse início pode parecer lento, mas serve para nos deixar ansiosos para controlar o Batman e, quando isso finalmente acontece, estamos prontos para caçar o Espantalho até o inferno.
Arkham Knight é o jogo mais cinematográfico da série e a direção confia na inteligência do jogador, conseguindo mostrar alguns flashbacks sem a necessidade de uma legenda dizendo “alguns anos antes”. Em alguns momentos até nos sentimos um pouco perdidos, mas até isso faz parte da experiência do jogo, já que o próprio Batman parece estar perdendo a sanidade a certa altura. O enredo possui muitos momentos de tensão e várias reviravoltas, sendo que nenhuma parece forçada. Arkham Knight é repleto de referências à histórias clássicas, como A Piada Mortal ou A Morte de Robin, mas todas explicadas dentro do próprio jogo. Desta maneira, a Rocksteady consegue agradar tanto os fãs mais antigos do homem-morcego quanto os novatos, mostrando toda a preocupação da desenvolvedora em respeitar os mais de 75 anos de história do personagem, mas sem excluir quem está chegando agora.
Apesar de estar morto, o Coringa não poderia deixar de aparecer no encerramento desta grande saga, afinal, ele é o verdadeiro nêmesis do Batman. E é bastante interessante a maneira como a Rocksteady apresenta o personagem no game, sendo ele o responsável por alguns dos momentos mais divertidos da trama. A menção que outros personagens fazem ao Coringa também rende alguns bons momentos, como quando a Mulher-Gato diz “Você está com saudades do Coringa, Batman. Precisa deixar esse luto de lado, existem muitos outros malfeitores com quem você pode se divertir”.
Além da excelente história, a grande novidade trazida por Arkham Knight é que dessa vez toda a cidade de Gotham pode ser explorada e, como divulgado na capa do jogo, finalmente podemos utilizar o Batmóvel. E é realmente empolgante dirigir o carro pelas ruas de Gotham enquanto caçamos criminosos em seus respectivos veículos. Dentro de túneis podemos até mesmo andar pelas paredes e pelo teto, principalmente ao acionar o botão de turbo. É possível ainda saltar do carro em movimento e alcançar grandes distâncias no céu, sem falar o modo de combate, que conta com canhões e mísseis e é utilizado para enfrentar tanques da milícia.
A adição do Batmóvel traz também novos puzzles a serem resolvidos pelo jogador. Em certos momentos é necessário controlar o carro via controle remoto, fazendo com que ele abra caminho para que o Batman alcance pontos que antes eram inacessíveis. Também é possível colocar o carro em uma posição estratégica para que ele destrua as defesas das bases inimigas e o morcego possa invadí-las com mais tranquilidade. O ponto negativo do Batmóvel fica por conta dos trechos onde ele deixa de ser uma ferramenta e passa a ser obrigatório. Nesses trechos precisamos enfrentar diversos tanques inimigos que parecem não ter fim e a coisa toda fica muito repetitiva e estratégica. Para a história do jogo pode até ser algo interessante, mas como jogador eu preferia poder utilizar o carro apenas quando tivesse vontade.
A jogabilidade com o homem-morcego continua a mesma das edições anteriores, aperte o botão de soco até cansar e quando for atacado aperte o botão de contra-ataque. Mesmo com essa previsibilidade, a Rocksteady conseguiu colocar alguns novos movimentos para o Batman, como a possibilidade de atacar vários inimigos em câmera lenta caso consiga pegá-los distraídos. E o bom é que a explicação para isso está dentro do próprio jogo, sendo uma habilidade adquirida graças ao novo uniforme que deixa o herói com os reflexos musculares mais rápidos. Fora isso, o personagem já começa com todos os equipamentos vistos nos jogos anteriores. É importante destacar ainda a diferença gigantesca que faz a produtora original do jogo trabalhando nele. Em Arkham Origins, produzido pela WB Montreal, era comum errar algum contra-ataque mesmo apertando o botão no momento certo, já nos três jogos da Rocksteady isso nunca acontece, os controles estão perfeitos.
Como o Batman não é apenas um lutador, mas também o maior detetive do planeta, não foi apenas o combate que recebeu algumas melhorias. O modo de detetive também foi aprimorado. Além de poder escanear corpos em busca de evidências ou analisar a cena de um crime para tentar descobrir o que aconteceu, agora é possível analisar também câmeras de segurança. Para isso, o jogador deve avançar ou retroceder durante os vídeos e achar pistas em alguns frames de cada imagem. É algo bem interessante e que só é utilizado em momentos bem específicos do jogo, nunca se tornando repetitivo. Em determinada parte, também é necessário que o Batman utilize seus conhecimentos sobre biologia e química para criar uma fórmula e cabe ao jogador resolver um pequeno puzzle para isso. Falando em puzzles, a parte do Charada apresenta alguns bem interessantes, principalmente porque a resolução deles depende das habilidades do Batman junto com um outro personagem.
Claro que em um jogo tão grande não poderiam faltar as missões secundárias, como impedir o Pinguim de traficar armas ou Duas-Caras de roubar bancos. E até estas pequenas missões apresentam novidades. Na primeira, contamos com a ajuda do Asa Noturna, sendo possível realizar ataques em conjunto com ele ou controlar o personagem caso o jogador queira abandonar um pouco o manto do morcego. Já nos roubos a banco precisamos de agilidade ao agir para impedir que os bandidos coloquem muitas sacolas de dinheiro no caminhão da fuga. Outras missões incluem o treinamento do Azrael, resgate de bombeiros sequestrados, caçada a um incendiário, investigação de assassinatos em série e os já famosos enigmas do Charada. Além dos enigmas, o Charada também montou vários circuitos de corrida repletos de armadilhas para testar as habilidades do Batmóvel. Quem curte jogos de corrida pode perder um bom tempo tentando quebrar recordes nesses circuitos. E aqui fica a dica para que se termine todas as missões secundárias antes de terminar a história principal, já que existe um final depois do final para quem fizer 100% do jogo.
Graficamente o jogo está belíssimo, com uma Gotham City repleta de detalhes. Os prédios são bem diferentes entre sim, cada um com sua própria arquitetura. Se no game anterior recebíamos ajuda da Oráculo via rádio, agora é possível visitá-la na Torre do Relógio, ou ainda passar na Torre Wayne para checar como estão as invenções tecnológicas de Lucius Fox. Impressiona também o nível de detalhes presentes no uniforme do Cavaleiro das Trevas, indo desde pequenos arranhões e buracos de tiro à maneira como a chuva deixa a capa do herói molhada. Quando o morcego recebe mensagem de algum aliado vemos o rosto desse aliado na tela, mas se girarmos a câmera e focalizarmos o rosto do Batman podemos perceber que aquilo na verdade aparece apenas nas lentes especiais que ele utiliza nos olhos. Mais uma prova do cuidado que os produtores tiveram com os detalhes, já que seria estranho aparecer o rosto do Alfred para todos ao redor do Batman. Sem contar que as tais lentes especiais já apareceram nos quadrinhos, nas primeiras histórias do herói na fase Novos 52.
Batman: Arkham Knight é um daqueles jogos que não chegou para reinventar a roda. Sua jogabilidade é a mesma desde 2009 e nem de longe isso é algo ruim, já que ela já era excelente desde aquela época. Mesmo assim, ele ainda traz boas novidades, como o Batmóvel e arenas muito maiores para se enfrentar inimigos. Algumas chegam a ter três andares diferentes e muitas formas de se entrar e sair delas, além de inimigos capazes de detectar o Batman caso o jogador utilize a visão de detetive por muito tempo, alguns ainda utilizam roupas imunes a esta visão. Mas o fato é que todas essas novidades acabam ficando em segundo plano quando entramos de cabeça na história do jogo. Arkham Knight não é apenas o melhor jogo do Cavaleiro das Trevas, mas é também uma das grandes histórias e uma das melhores encarnações do personagem fora dos quadrinhos.
BATMAN: ARKHAM KNIGHT
Plataforma avaliada: PlayStation 4 | Desenvolvedora: Rocksteady Studios | Publisher: Warner Bros. Games | Gênero: Ação | Multiplayer? Não.
Batman: Arkham Knight também está disponível para Xbox One, Windows, Linux e Mac OS X.