Demon’s Souls e a trilogia Dark Souls são indubitavelmente grandes marcos para os games. Com seus fascinantes universos, sua maneira diferenciada de emergir o jogador em suas narrativas e seu combate metódico, intenso e desafiador, as criações mais famosas da From Software revolucionaram diversos aspectos criativos e técnicos da indústria, criando um gênero só seu e servindo como influência para diversas outras obras.
Com o passar dos anos, diversos games desse novo gênero – o Soulslike – despontaram no horizonte, focando um pouco mais ou um pouco menos em cada aspecto de suas fontes de inspiração: alguns tentam contar histórias de maneira mais fragmentada, incentivando o jogador a bancar o arqueólogo para desvendar seus segredos; outros agregam a interessante mecânica de respawn para escapar da fórmula manjada de vidas e continues; outros ainda buscam mudar a perspectiva do jogo (de 3D para 2D, visão isométrica, etc.), para tentar oferecer a experiência dos Soulslike em outros gêneros e estilos de jogo.
Mas certamente o aspecto mais adorado pelos jogadores e mais copiado por desenvolvedores é o combate: muitos jogos tentam resgatar a emoção dos duelos de espada contra oponentes extremamente habilidosos e ferozes, ao mesmo tempo em que tentam dar novos ares com ideias diferenciadas. Sinner: Sacrifice for Redemption é um exemplo recente desse tipo de jogo que, a despeito de sua simplicidade, ainda tenta dar uma pequena sacudida no gênero RPG de ação e em seus paradigmas.
Sinner foi desenvolvido pelo estúdio Dark Star e distribuído pela publisher Another indie, tendo sido lançado no dia 18 de outubro de 2018. Nesse novo universo, o jogador encarna um guerreiro solitário e armado até os dentes, que carrega consigo a missão de expurgar os pecados do mundo: para tanto, ele precisa sacrificar um pouco de si para duelar com cada um dos 8 brutais Avatares do Pecado que assombram o mundo do jogo.
Não há masmorras labirínticas, vastos campos, castelos em ruínas ou qualquer outro lugar para se explorar. O foco de Sinner é no chamado “boss rush”, no qual o jogador enfrenta sucessivos chefes até o final da aventura.
Uma interessante característica desse jogo é ele ser também uma espécie de “RPG às avessas”: ao contrário de outros jogos desse gênero, o personagem controlado pelo jogador fica MAIS FRACO, e não mais forte, conforme progride na campanha, agregando ao jogo uma boa camada de desafio. Para duelar com um Avatar do Pecado, nosso guerreiro precisa abdicar de um atributo ou habilidade (que pode ser parte de sua vida e energia, uma certa quantidade de itens, parte do dano causado por suas espadas, a durabilidade do seu escudo, entre outros), usando-o para abrir um portal que leva à arena onde a batalha será travada.
A cada vitória as penalidades vão se acumulando, tornando a jornada mais e mais difícil. Mas caso um chefe esteja difícil demais, é possível pegar de volta seu sacrifício (e ficar forte novamente) e escolher qualquer outro chefe para enfrentar quando quiser.
Outra coisa que me agradou bastante foi a curva de aprendizado de Sinner: apesar de sua clara inspiração na série Souls (que tem uma jogabilidade mais complexa e exige um pouco mais do jogador para aprender o básico), aqui os comandos são ligeiramente mais simplificados, embora funcionem quase da mesma maneira: golpe fraco no X/Quadrado, golpe forte no Y/Triângulo, esquiva no A/X, uso de itens com LB/L1 e troca de itens pressionando-se o direcional digital para esquerda ou direita.
Felizmente, Sinner não te joga logo de cara pra cima dos chefões: no comecinho do jogo, um punhado de inimigos menores dão uma oportunidade para o jogador aprender os comandos listados neste parágrafo, treinar os movimentos, experimentar as armas e se preparar para os grandes desafios mais adiante.
As batalhas contra os chefes, por outro lado, são bastante desafiadoras, como se espera de um Soulslike. Somos obrigados a decorar os padrões de movimento dos personagens e a reagir rapidamente aos seus ataques. Podemos escolher quem enfrentar primeiro em qualquer ordem desejada e é necessário derrotar os sete primeiros chefes – todos bastante variados tanto em aparência, quanto em suas técnicas de combate, além de serem muito bem animados – antes de finalmente encarar o surpreendente chefão final.
Apesar de seu design simples e sucinto, Sinner: Sacrifice for Redemption ainda dá um jeitinho bacana de contar uma história: sempre que o jogador entra em uma arena pela primeira vez, é recepcionado com um cutscene animada em preto e branco, que conta a trágica história de como cada um dos sete indivíduos foram assolados pelos Avatares do Pecado e se transformaram nas mostruosidades que enfrentaremos no jogo, além de dar detalhes do papel desempenhado pelo soturno e estoico protagonista.
Sinner: Sacrifice for Redemption também tem sua pequena cota de problemas: o jogo é um bocado pesado e não roda muito bem em computadores mais antigos, obrigando-me a reduzir drasticamente a resolução e a qualidade gráfica para torná-lo razoavelmente jogável. Além disso, o jogo dava pequenos travamentos quando apareciam muitos elementos gráficos na tela
Infelizmente esse é um problema bastante comum em jogos feitos com a Unreal Engine 4 e não é qualquer desenvolvedora que consegue – ou mesmo se importa em – fazer um jogo bem otimizado para PC (DragonBall FighterZ, da Bandai Namco, é uma das agradáveis exceções a essa regra que me vem à cabeça no momento). Mas imagino que quem tenha um PC ideal para jogos ou adquira a versão para um dos consoles disponíveis no mercado não deva ter maiores problemas com isso.
Seja como for, Sinner: Sacrifice for Redemption ainda cativa bem e garante algumas boas horas de diversão, um visual e direção de arte marcantes e uma ótima dose de desafio pra quem adora esse interessante tipo de RPG de Ação.
SINNER: SACRIFICE FOR REDEMPTION
Plataforma avaliada: PC/Windows | Desenvolvedores: Dark Star | Publisher: Another Indie | Gênero(s): RPG de Ação, Soulslike
Esta resenha foi elaborada com uma cópia do jogo gentimente cedida pelos desenvolvedores.
Sinner: Sacrifice for Redemption também está disponível para PlayStation 4, Xbox One e Nintendo Switch. No PC, o jogo tem versões para Windows e macOS.